Lucas Bernar
Mudanças climáticas e o papel das universidades na formação de agentes de mudança
Nossa biodiversidade está sendo perdida em taxas altíssimas e a poluição do ar e do mar tornou-se uma ameaça cada vez mais urgente para a saúde humana.

O Global Risk Report, feito pelo Fórum Econômico Mundial em 2018, coloca os desastres naturais, condições climáticas extremas, riscos ambientais que cresceram e o fracasso na mitigação das mudanças climáticas como os mais prováveis de acontecerem e com maior potencial de impacto nos próximos anos. Isso segue um ano de 2017 caracterizado por furacões severos, temperaturas extremas e aumento nas emissões de CO2.
Além disso, estima-se que a demanda por alimento, água e energia tende a crescer aproximadamente 35%, 40% e 50% respectivamente, devido ao aumento da população global e a expansão dos padrões de consumo da classe média. As mudanças climáticas tendem a piorar as perspectivas de disponibilidade desses recursos.
Ao que tudo indica, nós estamos empurrando nosso planeta à beira do precipício e o dano está se tornando cada vez mais óbvio.
Atacar esses problemas a partir de um único recurso não será possível sem afetar o fornecimento e demanda dos outros. Agricultura é altamente dependente da acessibilidade a fontes adequadas de água e fertilizantes ricos em energia. A energia hidrelétrica é uma fonte significativa de energia em algumas regiões do mundo, como no Brasil, enquanto novas formas de energia - como biocombustíveis - ameaçam agravar a escassez de alimento. Isso significa que a interseccionalidade entre o fornecimento e demanda desses recursos pode dar brecha para consequências muito negativas
- ou servir de base para potenciais sinergias positivas.
Pensando por esse lado, mudanças climáticas podem ser um dos principais fomentadores de inovação, na medida que as organizações busquem formas de mitigar ou ajudar a se adequar aos seus efeitos.

Uma das formas mais relevantes de mitigar as mudanças climáticas é através do uso de energias renováveis, como a solar.
O Brasil, por conta do seu vasto território e da alta biodiversidade terrestre e marinha, precisa ser parte importante no processo de adaptabilidade e mitigação das mudanças climáticas no âmbito global.
O grande desafio, contudo, é que assim como outros países em desenvolvimento, ainda enfrentamos um problema dobrado. Nós entramos no século XXI sem resolver muitos problemas do século XX. Pra se ter uma ideia, apenas 18% dos municípios brasileiros operam coleta seletiva; 38% das moradias brasileiras são consideradas inadequadas; só 54,9% dos domicílios brasileiros têm esgotamento sanitário; 55% do consumo final de energia no Brasil é de origem fossil. Isso significa que, além de mitigar as mazelas e consequências negativas que as mudanças climáticas tendem a trazer para o nosso ecossistema, teremos que solucionar todos esses problemas sociais e ambientais que foram deixados de lado nos últimos anos.
Diante desse cenário tão complexo, com problemas sistemicos, é praticamente impossível imaginar que só o governo ou só as empresas serão capazes de propor e implementar soluções isoladamente. Empresas, governo e sociedade civil precisam caminhar lado a lado se quisermos ter a chance de salvar nosso planeta.
Mas afinal, o que as universidades tem a ver com isso?
As universidades hoje, principalmente nos cursos de engenharia, administração e economia, formam profissionais para serem trainees e gerentes de grandes empresas. Não me entenda mal, não há absolutamente nada de errado em ser gerente de uma multinacional. Mas para um país que precisa superar as mazelas do século passado e ainda enfrentar os desafios do século presente, isso não é suficiente.
Industrias tradicionais de energia, saneamento e resíduo, com milhões de empregados, serão transformadas, e novos tipos de trabalho em energia e água, novos processos de engenharia, design de produto e gerenciamento e reuso de resíduo precisarão ser criados para lidar com essas necessidades. E as universidades, por sua vez, precisam estar preparadas para capacitar e desenvolver profissionais e líderes que serão capazes de lidar com esse cenário. Novas tecnologias que sejam capazes de reduzir e reutilizar recursos naturais, novos modelos de negócio que se proponham a minimizar ou solucionar os principais problemas sociais e ambientais existentes precisam ser desenvolvidos e implementados.
Por isso, as universidades brasileiras precisam deixar de apenas formar gerentes e passar cada vez mais a formar agentes de mudança. Pessoas preparadas para se desafiar a lidar com tais problemas - seja na grande empresa, no governo, no terceiro setor, ou empreendendo novas iniciativas.
Algumas iniciativas que trabalham com o público universitário já estão caminhando nessa direção. No âmbito do Ensino, por exemplo, o Choice, que trabalha com apoio e desenvolvimento de jovens empreendedores, está levando as temáticas de empreendedorismo e inovação social para jovens de todo o Brasil idealizarem e prototiparem novas soluções para os problemas do mundo. Inclusive, as inscrições para o Programa de Embaixadores Choice 2.0 estão abertas! Saiba mais por aqui.
No âmbito da pesquisa, cito a Emerge, iniciativa que busca fomentar e fortalecer a inovação tecnológica e a ciência, formando, conectando e apoiando jovens inovadores em universidades para a geração de negócios e oportunidades que promovam o desenvolvimento do país.
Na parte de extensão, temos a Enactus, que conecta estudantes, líderes executivos e líderes acadêmicos para criarem projetos de empreendedorismo para desenvolvimento de comunidades de baixa renda em todo o Brasil.
É notório que essa mudança já está acontecendo. Mas a pergunta é: será que ela está sendo rápida o suficiente?
O que você acha? Conhece outras iniciativas que estão se destacando neste sentido? Comenta aqui!
Referências:
a distância que nos une Relatório